Leia sempre, a leitura transforma.

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PROSA

PROSA ROMÂNTICA


                             
      
  
Um dos fatos mais importantes do Romantismo foi a criação de um novo público, uma vez que a literatura torna-se mais popular, o que não acontecia com os estilos de época de características clássicas. Surge o romance, forma mais acessível de manifestação literária; o teatro ganha novo impulso ao assumir feições nacionais e populares. Com a formação dos primeiros cursos superiores em 1827 e com o liberalismo burguês, dois novos elementos da sociedade brasileira representam um mercado consumidor a ser atingido: o estudante e a mulher. Com a vinda da família real, a imprensa passa a existir no Brasil e, com ela, os folhetins, que desempenharam importante papel no desenvolvimento do romance romântico.
O romance romântico passa a responder às exigências do público leitor; para tanto, tinge-se de “cor local”, gira em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens, apresentando personagens idealizados pela imaginação e ideologia românticas, com os quais o leitor se identificava, vivendo uma “realidade” que lhe convinha.
Cronologicamente, o primeiro romance brasileiro foi O Filho do pescador, publicado em 1843, de autoria de Teixeira e Sousa. Romance sentimentalóide, de trama confusa, não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria em nossas letras.
Desta forma, pela aceitação obtida junto ao público leitor, por ter moldado o gosto desse público ou correspondido às suas expectativas, convencionou-se adotar o romance A Moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro.

A ficção romântica produziu:
1- ROMANCES INDIANISTAS - que exaltam nossos nativos, reflete o nacionalismo e a exaltação da natureza pátria.

2- ROMANCES REGIONALISTAS, afirmando características localizadas e peculiares ao nosso povo, feito também de escravos, soldados, sertanejos.

3- ROMANCES HISTÓRICOS que, numa visão ufanista, revivem momentos importantes e críticos da nossa formação nacional.

4- ROMANCES URBANOS, ligados à vida diária dos nobres ou do povo da cidade, retratando os costumes da sociedade de então, especialmente da Corte (Rio de Janeiro).



PRINCIPAIS AUTORES BRASILEIROS

 
JOAQUIM MANUEL DE MACEDO
(1820-1882)

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1820. Em 1844, mesmo ano em que se forma em Medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, publica seu primeiro romance - A Moreninha.
Junto com Araújo Porto Alegre e Gonçalves Dias, fundou a revista Guanabara. Foi também professor do colégio D. Pedro II, cargo que ocupou até a morte. Faleceu em 1882, na cidade do Rio de Janeiro.

A obra de Macedo representa todo o esquema e desenvolvimento dos romances românticos iniciais: descrição de costumes da sociedade carioca, suas festas, tradições e ambientes típicos; caráter documental; estilo fluente e leve; linguagem simples; que beirava o desleixo; tramas fáceis; pequenas intrigas de amor e mistério; final feliz, com vitória no amor. Com essa receita Macedo consegue ser o autor mais lido no Brasil nas décadas de 40 e 50, até sofrer a concorrência de Alencar e seu O Guarani (1857).
Macedo foi, por excelência, o escritor da classe média carioca, que se opunha à aristocracia rural. Sua pena tinha o “gosto burguês”; seus romances eram povoados de jovens estudantes idealizados, moçoilinhas casadoiras ingênuas e puras e outros tipos que perambulavam pela agitada cidade do Rio de Janeiro.

Obras:
- A Moreninha (1844)
- O Moço Loiro (1845)


 


BERNARDO GUIMARÃES
(1825-1884)

Seu nome completo era Bernardo Joaquim da Silva Guimarães. Estudou direito em São Paulo, onde se uniu ao grupo boêmio da Faculdade. Foi juiz de direito
e professor secundário em Ouro Preto e Queluz. É um romancista que nos liga mais à natureza e aos conflitos sociais. É considerado um dos criadores do romance sertanejo e regional: estilizou nossa paisagem, nosso sertanejo, nosso mestiço, nosso garimpeiro, o padre do interior, o estudante de seminário e o nosso índio. Além de romancista notabilizou-se como humorista.

Obras:
- O Garimpeiro (1872)
- O Ermitão de Muquém (1865)




MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA
(1831-1861)

 Nasceu em 1831, no Rio de Janeiro. Estudante de Medicina, publica Memórias de um Sargento deMilícias em folhetins, no suplemento Pacotilha do jornal Correio Mercantil, ao longo de 1852/53.



Menos idealista e mais satírico, adiantou-se a seu tempo. Fez uma obra sem pretender fazer literatura e conseguiu apreender a realidade do momento, os aspectos corriqueiros e cômicos da vida diária. Escreveu na língua em que o povo falava. Conseguiu tudo isso numa típica novela, obra totalmente inovadora para sua época, pois abandona a visão da burguesia urbana para retratar o povo em toda a sua simplicidade. Retrata com humor e sátira o período de D. João VI no Brasil, justamente o momento das maiores transformações, da mudança da mentalidade colonial para a vida da Corte.


As Memórias ferem a “sensibilidade romântica” a partir de seu herói: comparado com os modelos românticos, Leonardinho é um anti-horói, aquele que vê a sociedade de baixo para cima, o que está à margem dessa sociedade, com um outro ângulo de visão.

Obras:
- Memórias de um Sargento de Milícias (1852)





VISCONDE DE TAUNAY
(1843-1899)


Seu nome completo era Alfredo D’Escragnolle Taunay. Cursou Ciências Físicas e Matemáticas na Escola Militar.


Participou da Guerra do Paraguai e de várias outras campanhas militares. Ingressou na vida política sendo deputado e senador e presidente de províncias. Recebeu o título de Visconde.


Romântico pelo idealismo sentimental e realista pelas descrições da natureza, às vezes com observações minuciosas e notas científicas sobre a fauna e a flora, Taunay é um escritor de transição que se tornou famoso graças a duas obras: Inocência e A retirada de Laguna.


Testemunhou e descreveu A Retirada de Laguna, episódio ocorrido na Guerra do Paraguai, escrita originalmente em francês e traduzida mais tarde por Salvador de Mendonça. Inocência é o seu melhor romance, foi traduzido para diversos idiomas, nele utiliza a vida rural brasileira como cenário e narra a história de Inocência, que se apaixona por Cirino, um falso médico, apesar de ter sido prometida a Manecão. A história é uma espécie de Romeu e Julieta, termina com a morte de Inocência e Cirino.

Inocência (1872)
- A mocidade de Trajano (1871)
Obras:
- O encilhamento (1894)
- A retirada de laguna (1872)
Escreveu contos, depoimentos e peças teatrais.

 



JOSÉ DE ALENCAR
(1829-1877)

Seu nome completo era José Martiniano de Alencar, nasceu em Macejana, no Ceará, no ano de 1829 e morreu no Rio de Janeiro, em 1877, de uma tuberculose contraída na mocidade.

Formou-se em Direito em São Paulo, em 1850, e teve uma brilhante carreira de advogado, jornalista e político.
Desgostoso com seus insucessos na área política, dedicou-se integralmente às atividades literárias, deixando-nos assim uma extensa e extraordinária produção.
Embora não tenha sido propriamente o criador do romance romântico, é a figura mais importante da prosa romântica.

A OBRA DE JOSÉ DE ALENCAR

Alencar tinha consciência clara do papel que cabia ao escritor de sua época. Por isso, o conjunto de romances que escreveu tornou-se a obra mais representativa na busca das raízes de nossa nacionalidade.
Seus romances abrangem todos os aspectos da realidade brasileira do seu tempo. Além disso, o escritor sempre se preocupou em empregar uma língua que se distanciasse do português utilizado em Portugal.

Romances Urbanos

- Cinco Minutos (1856)
- A viuvinha (1860)
- Lucíola (1862)
- Diva (1864)
- A Pata da Gazela (1870)
- Sonhos d'ouro (1872)
- Senhora (1875)
- Encarnação (1877)


Romances Regionalistas ou Sertanistas
- O Gaúcho (1870)
- O Tronco do Ipê (1871)
- Til (1872)
- O Sertanejo (1875)

Romances Históricos
- As Minas de pedra (1862)
- Alfarrábios (1873)
- Guerra dos Mascates (1873)

Romances Indianistas
- O Guarani (1857)
- Iracema (1865)
- Ubirajara (1874)

Hoje, o estilo de Alencar parece-nos declamatório, mas, ao ler seus romances, não podemos nos esquecer de situá-los no tempo em que foram escritos.

O estudo do romance alencariano é favorecido por um texto que ele próprio escreveu como prefácio de seu livro Sonhos d'ouro onde expressa a seu desejo de fazer um grande painel do Brasil, cobrindo-o por inteiro, o Norte e o Sul, o litoral e o sertão, o presente e o passado, o urbano e o rural, incluindo a tentativa de estabelecer um linguagem brasileira. Nesse prefácio, o autor deixa claro o propósito de retratar os aspectos fundamentais da vida brasileira, além de fornecer uma classificação de sua própria obra.


O ROMANCE INDIANISTA foi uma das soluções que os escritores brasileiros encontraram para repetir aqui a proposta européia de volta ao passado. A civilização indígena representou literariamente o aspecto mais autêntico de nossa nacionalidade.
“O segundo período é histórico: representa o consórcio do povo invasor com a terra americana, que dele recebia a cultura e lhe retribuía nos eflúvios de sua natureza virgem e nas revelações de um solo esplêndido.”

ROMANCE HISTÓRICO pretende trazer à tona figuras históricas ou até figuras lendárias, situando-as em seu tempo e momento reais.
“A terceira fase, a infância de nossa literatura, começada com a independência política, ainda não terminou; espera escritores que lhe dêem os últimos traços e formem o verdadeiro gosto nacional. (…) Onde não se propaga com rapidez a luz da civilização, que de repente cambia a cor local, encontra-se ainda em sua pureza original, sem mescla, esse viver singelo de nossos pais, tradições, costumes e linguagem, com um sainete todo brasileiro.”

O ROMANCE REGIONALISTA vai retratar diferentes partes do país, focalizando seus hábitos, costumes, linguagem, tradições, sempre em oposição aos valores urbanos da corte.
“Nos grandes focos, especialmente na corte, a sociedade tem a fisionomia indecisa, vaga e múltipla…

O ROMANCE URBANO procura focalizar a corte, onde se mistura um modo de ser nacional e as influências estrangeiras. Nesse tipo de romance, Alencar retrata a vida burguesa da época, utilizando histórias de amor como assunto das narrativas.
Publicado em 1857 (inicialmente em folhetins e no mesmo ano em volume) O Guarani é considerado a “epopéia da formação da nossa nacionalidade”, dentro do propósito romântico de afirmação nacional e exaltação patriótica. Idealizando tanto o índio como o colonizador português, que constituem o esteio de nossa raça, o livro, nas palavras — anteriormente transcritas — do próprio autor, insere-se naquele período que “[...] representa o consórcio do povo invasor com a terra americana, que dele recebia a cultura, e lhe retribuía nos eflúvios de sua natureza virgem e nas reverberações de um solo esplêndido. [...] É a gestação lenta do povo americano, que devia sair da estirpe lusa, para continuar no novo mundo as gloriosas tradições de eu progenitor.”

No romance indianista, abarcou três fases da nossa história relativamente ao contato entre o índio e o branco:
  • o período pré-cabralino: Ubirajara, cujo enredo se passa antes da colonização portuguesa, com os índios ainda livres de qualquer influência estrangeira;
  • os primeiros contatos entre o índio e o branco: Iracema, cujo enredo é dominado pela relação amorosa entre a personagem-título e o guerreiro português Martim;
  •  a colonização: O Guarani, que trata da convivência entre o índio e o branco já no processo de colonização.
Embora se classifique como indianista, O Guarani apresenta também diversas características dessas outras variações ficcionais, principalmente do romance histórico. Tal como Iracema (com as personagens Poti, Jacaúna, Irapuã, Martim Soares Moreno), O Guarani traz personagens construídas com base em figuras que realmente existiram e fizeram parte da história brasileira. Já no primeiro capítulo o autor se inspira em fontes históricas para descrever o rio Paquequer.

D. Antônio de Mariz, uma das personagens centrais, é, por exemplo, ninguém menos que um dos nobres que assistiram à cerimônia de fundação e às edificações da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, na companhia de Mem de Sá, além de ter sido um dos defensores do solo brasileiro nos combates contra os franceses. É armado cavaleiro em 1578 e exerce os cargos de governador da real fazenda e de juiz da alfândega. Mas cairia no esquecimento, se não fosse resgatado como personagem por José de Alencar.

A presença do regionalismo se mostra na ambientação de uma fazenda como principal cenário onde transcorre a história; e a descrição pormenorizada dos detalhes sociais remete ao romance de costumes.

A linguagem é rica, colorida, adjetivosa, exuberante, marcada por metáforas e imagens grandiosas, exóticas e atraentes, de grande plasticidade. A idealização está presente a cada passo, tanto nas descrições da natureza, quanto na apresentação das personagens. Se Ceci é a heroína adolescente, Peri é o “bom selvagem” de Rousseau, um autêntico cavaleiro medieval, “cavalheiro português no corpo de um selvagem!”

Narrado em terceira pessoa por um narrador onisciente, O Guarani apresenta um enredo marcado pelo idealismo e pelo sentimento nacionalista.

Vídeos sobre a vida e a obra de Alencar:

Parte 1 - José de Alencar

Parte 2 - José de Alencar


  
TEATRO


MARTINS PENA
LUÍS CARLOS MARTINS PENA
(1815 - 1848)


Matins Pena nasceu no dia 5 novembro de 1815 no Rio de Janeiro.
Filho de João Martins Pena e Francisca de Paula Julieta Pena, ficou órfão de pai quando tinha apenas um ano de idade e de mãe aos dez. Dai por diante foi criado por tutores que o incentivaram a aprender as artes do comércio.

Após completar o curso de Comércio em 1835, passou a estudar, dentre outras coisas, pintura, música, literatura e teatro. Dedicou-se também ao estudo de outras línguas, tendo grande facilidade em dominá-las. Essa aptidão facilitou o seu ingresso na carreira diplomática, chegando a ser adido (pessoa não pertencente aos quadros diplomáticos designada para servir junto a uma embaixada como representante de interesses específicos) de Primeira classe na legação de Londres.
Tuberculoso, deixou o frio de Londres e tentou retornar ao Brasil. No entanto, não completou a viagem, vindo a falecer em 7 de dezembro de 1848 em Lisboa.
Martins pena é considerado o fundador da comédia de costumes no teatro brasileiro. É considerado ainda um dos principais precursores do Romantismo no Brasil e um dos primeiros autores a retratar o processo de urbanização no século XIX.

Grande parte da obra composta por Martins foi teatro. Em suas aproximadas 30 peças, divididas em comédias e farsas, percebe-se que Martins Pena usa com precisão a linguagem coloquial. Outras características importantes são o seu extraordinário estilo cômico e a sátira, usada para censurar, entre outras coisas, a hipocrisia da Igreja e os abusos políticos. Vale lembrar que graças a esse estilo conseguiu grande popularidade não só no período em que viveu, mas também nos dias atuais, pois suas obras são representadas com êxito nos dias atuais.

O mundo dos seus personagens englobam, sobretudo, o povo simples da roça e a gente comum das cidades. Em sua verdadeira galeria de personagens destacam-se os seguintes "tipos": juizes, profissionais da época, malandros, estrangeiros, falsos cultos etc. O tema das peças gira em torno de casamentos, heranças, dívidas, festas da cidade e da roça, pequenas intrigas domésticas etc. Esses temas, por serem cotidianos, agradaram em demasia o público.

Dentre suas obras as que mais se destacam são as seguintes:

- Os Irmãos das Almas;
- O Judas em sábado de Aleluia (1846);
- Os Dois ou O Inglês maquinista;
- Os Namorados ou a Noite de S. João;
- Os Três Médicos;
- O Cigano;
O Noviço (1853);
As Casadas Solteiras;
- O Segredo d'Estado;
- D. Leonor Telles.

Martins Pena é o patrono da Cadeira n.º 29 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Artur Azevedo.