por Filipe Larêdo*
Cortesia de:papodehomem.com.br/a-literatura-fantastica-no-brasil/
FANTÁSTICO:
adjetivo e substantivo masculino (sXIV)
que ou aquilo que só existe na imaginação, na fantasia
etimologia:
do grego phantastikós, 'relativo
à imaginação'; ver fantas-.
fantas- : antepositivo do grego phántasis, 'visão'.
Fonte: Grande Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa online
Quando falamos de literatura fantástica, os primeiros nomes que nos vêm à mente são C. S. Lewis (1898- 1963), J. R. R. Tolkien (1892-1973) e George R. R. Martin (1948-), certo?
No entanto, a despeito de esses nomes estarem no topo dos cânones divinos do gênero e serem considerados a "trindade fantástica", para muitos brasileiros eles não são os únicos a merecerem tal reverência, pois uma produção incessante, feita nos mais diversos rincões do Brasil, vem abastecendo os amantes do gênero já há algum tempo.
Com cenários suficientemente fantásticos e mitológicos, não é de se estranhar que o Brasil seja palco de fascinantes livros ambientados em seu território. Desde o extremo norte até os pampas sulistas, muitas histórias de nossa terra foram narradas a partir de diferentes referenciais - indígenas, negros e europeus. Tal mistura de estilos e variedade de temas oferece rico material para autores nacionais, cujo trabalho vem, nos últimos anos, ganhando destaque e espaço nas estantes das livrarias e nos criados-mudos dos leitores.
BIOGRAFIA CS LEWIS
Sir Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis (Belfast, 1898 - Oxford, 1963), foi um professor universitário, teólogo anglicano, poeta e escritor britânico, nascido na Irlanda, atual Irlanda do Norte. Destacou-se pelo seu trabalho acadêmico sobre literatura medieval e pela apologética cristã que desenvolveu através de várias obras e palestras. É mais conhecido por ser o autor da famosa série de livros infanto-juvenis AsCrônicas de Nárnia, em sete volumes, pela qual recebeu inúmeros prêmios - incluindo a renomada medalha de Carnegie.
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Esse cenário é bastante promissor, pois além de gerar oportunidade para aqueles que "estão no batente" há muito tempo, abre espaço para novos autores.
E quanto à "trindade fantástica brasileira"? Mesmo correndo o risco de ser injusto com outros autores de grande destaque, não é absurdo dizer que esta é formada por André Vianco, Raphael Draccon e Eduardo Spohr.
A despeito de grande parte dos brasileiros não cultivarem o hábito da leitura, esses três autores juntos alcançam números que estão muito além da média e podem se orgulhar de já terem vendido livros na faixa dos milhões.
Sim, é verdade. Seus fãs são fiéis e a cada lançamento esperam ansiosamente para ter seus livros autografados. Em tempos de crise de leitura, eles podem ser chamados de verdadeiras estrelas literárias, o que, por si só, causa estranheza em um país que pouco lê.
Leia pouco e será como muitos...
Leia muito e será como poucos.

André Vianco | Mesmo parecendo injusto com outros autores de grande destaque, antes de André Vianco, Raphael Draccon e Eduardo Spohr, a literatura fantástica no Brasil era considerada gênero de baixo escalão. |
Porém, eles não são os únicos que fazem os fãs chorarem de emoção ao assinar seus livros e posar para uma foto. Carolina Munhóz, Thalita Rebouças, Cirilo S. Lemos, Eric Novello, Fábio M. Barreto e Affonso Solano também vêm se destacando e já contam com várias dezenas de milhares de fãs e de livros vendidos, causando alvoroço em todas as palestras e lançamentos dos quais participam.
BIOGRAFIA J. R. R.TOLKIEN
Sir John Ronald Reuel Tolkien, mais conhecido como J. R. R. Tolkien (Bloemfontein, 1892 - Bournemouth, 1973), foi um premiado escritor, professor universitário e filólogo britânico, nascido na África, que recebeu o título de doutor em Letras e Filologia pela Universidade de Liège e Dublin em 1954. Tolkien ganhou renome internacional como autor, entre outras obras, de O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion.
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Mas por que a grande mídia ainda resiste em lhes dar espaço? Não sei.
De qualquer forma, no Brasil, esse tipo de literatura começa a ganhar destaque graças, sobremaneira, aos nomes citados.
Antes deles, no Brasil, a literatura fantástica era considerada gênero de baixo escalão (ou seja, "baixa literatura"), apesar de as obras estrangeiras serem classificadas como clássicos em seu país de origem.
Alguém se atreveria a chamar O Senhor dos Anéis de baixa literatura? Ninguém em sã consciência faria isso. Antes, precisaria estar ciente de que seria alvo de uma avalanche de críticas de mestres, doutores e pós-doutores, especializados em literatura tolkieniana.
Acontece que a crítica literária no Brasil, embora comece a apresentar sinais de mudança, ainda é bastante engessada no academicismo (é praxe considerar "boa literatura" apenas obras feitas por - ou referendadas por - gabaritados professores universitários).
Dessa forma, forma-se um círculo preciosista totalmente desnecessário, principalmente em um país que encontra graves dificuldades de comunicação entre livros e leitores. Se esse problema ficasse apenas no âmbito da produção, já seria grave, no entanto ele se estende a uma elite consumidora, que negará até a morte que muitas vezes não entende o que lê, já que os livros engessados, intelectualmente herméticos que lhes são oferecidos são considerados "boa literatura".
Felizmente, os leitores já não precisam dos velhos críticos literários para lhes dizer o que é bom ou não. O acesso à internet permite que as pessoas conversem entre si, organizem encontros e saibam quando e onde seu autor preferido estará.
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RAPHAEL DRACCON |
Um exemplo muito interessante disso é o Simpósio de Literatura Fantástica, que surgiu em 2007 e se orgulha de ser hoje um dos mais importantes eventos de literatura fantástica nacional. Outro exemplo importante são os podcasts que versam sobre cultura pop, literatura pop e também sobre literatura fantástica. Um deles é o Rapadura Cast, cujos idealizadores compõem um time de primeira linha: Raphael Draccon, Carolinha Munhóz, Affonso Solano, entre outros que por conta da imensa quantidade de seguidores utilizam o podcast para a divulgação de seus livros, atraindo, dessa forma, uma multidão de admiradores para o lançamento de suas obras.
Por último, podemos citar o portal Jovem Nerd, que virou uma febre nacional, e o selo próprio, Nerdbooks, que lançou quatro livros e conseguiu vender, sem o apoio formal das grandes redes de livrarias, dezenas de milhares de exemplares - dentre os quais destaca-se Branca dos Mortos e os Sete Zumbis, que obteve tamanho sucesso que teve os direitos de publicação comprados pela Globo Livros.