Leia sempre, a leitura transforma.

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REALISMO





Courbet - foi considerado o criador do Realismo Social na pintura, 
pois procurou retratar em suas telas temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares.



CONTEXTO HISTÓRICO


Em meados do século XIX o Romantismo já dava mostras de esgotamento, especialmente porque derivou para o sentimentalismo piegas, irresponsabilidade à forma, exageros da imaginação.
O século XIX é denominado pelo progresso da ciência e da indústria e pelas conquistas sociais. Há uma grande confiança na capacidade humana de resolver seus problemas pela aplicação da razão e da inteligência.
O movimento que se opôs ao Romantismo foi o Realismo. A literatura realista despe-se do sentimentalismo. O escritor procura ausentar-se da obra, como observador impassível, e pretende refletir a vida em sua obra.


CARACTERÍSTICAS


As características da estética realista podem ser sintetizadas como segue:
1- observação e análise da realidade;
2- preocupação com a objetividade e interesse pela sociedade e pelas leis científicas;
3- o mundo real substitui o mundo ideal;
4- interesse pelo presente e contemporâneo;
5- temas universais: universalismo;
6- preferência por personagens populares e vulgares;
7- ideal republicano, antimonárquico;
8- tendência anticlerical.




REALISMO - NATURALISMO NO BRASIL
(1881-1893)


No Brasil considera-se 1881 como o ano inaugural do realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluísio Azevedo publica O Mulato, o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, o primeiro romance realista de nossa literatura.
Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de Missal e Broquéis, ambos de Cruz e Souza, obras inaugurais do Simbolismo. No entanto, é importante salientar que 1893 registra o início do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa, com os romances realistas e naturalistas, e na poesia, com o Parnasianismo. Basta lembrar que D. Casmurro, de Machado de Assis, é de 1900; Esaú e Jacó, do mesmo autor, é de 1904. Olavo Bilac foi eleito "príncipe dos poetas" em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, é de 1897. Na realidade , nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros vinte anos do século XX, temos três estéticas que se desenvolvem paralelas: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a semana de Arte Moderna.


MOMENTO HISTÓRICO


O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A Revolção Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da Física e da Química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa operária urbana avoluma-se, formando uma população marginalizada que não partilha os benefícios gerados pelo progresso industrial mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.
Esta nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação de realidade, gerando teorias de variadas posturas ideológicas.
O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico como no político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora como profundas diferenças materiais se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/1870) tem como conseqüência o pensamento republicano.



CARACTERÍSTICAS


As características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma, a postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo, com todas as suas variantes. Assim é que o objetivismo aparece como negação do subjetivismo romântico e nos mostra o homem voltado para aquilo que está diante e fora dele, o não-eu; o personalismo cede terreno para o universalismo. O materialismo leva a negação do sentimentalismo e da metafísica. O nacionalismo e a volta ao passado histórico são deixados de lado; o Realismo só se preocupa com o presente, o contemporâneo.
Influenciados por Hypolite Taine e sua filosofia da Arte, os autores realistas são adeptos do determinismo, segundo o qual a obra de arte seria determinada por três fatores: o meio, o momento e a raça - esta, no que se refere à hereditariedade. O avanço das ciências, no século XIX, influencia sobremaneira os autores da nova estética, principalmente os naturalistas, donde se fala em cientificismo nas obras desse período.
Ideologicamente os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como se observa na leitura de romances como O Mulato, O Cortiço e O Ateneu, por exemplo. Negam a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade; a família; eis por que os sempre presentes triângulos amorosos, formados pelo pai traído, a mãe adúltera e o amante, que é sempre um "amigo da casa"; para citarmos apenas exemplos famosos de Machado e Assis, eis alguns triângulos: Bentinho / Capitu / Escobar; Lobo Neves / Virgília / Brás Cubas; Cristiano Palha / Sofia Palha / Rubião. São anticlericais, destacando-se em suas obras os padres corruptos e a hipocrisia de velhas beatas.
Finalmente é importante salientar que Realismo é denominação genérica da escola literária, sendo que nela se podem perceber três tendências distintas, expostas a seguir:



ROMANCE REALISTA
Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. É interessante constatar que os cinco romances da fase realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos - Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Memorial de Aires - revelando clara preocupação com o indivíduo.


ROMANCE NATURALISTA
Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma preocupação: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão, O Ateneu.


POESIA PARNASIANA
Preocupada com a forma e a objetividade; a "arte pela arte", com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a Trindade Parnasiana.


A produção literária de fins do século XIX no Brasil permite o seguinte resumo de autores e obras:

TENDÊNCIA REALISTA



MACHADO DE ASSIS, upload feito originalmente por Fragadesenhos.

 MACHADO DE ASSIS
(1839-1908)

Machado de Assis é o representante máximo do nosso Realismo.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839, e morreu na mesma cidade, em 1908.
Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira portuguesa, não chegou a realizar seus estudos regulares.
Trabalhou como tipógrafo e revisor, tornando-se mais tarde intenso colaborador na imprensa da época. Casou-se em 1869 com Carolina Augusta Xavier Novais, companheira que muito o ajudou na carreira literária. Juntamente com Joaquim Nabuco, fundou a Academia Brasileira de Letras, em 1897, tendo sido eleito unanimemente como seu primeiro presidente.
De origem humilde, órfão desde cedo, gago e epiléptico, funcionário público, tímido, reservado, modelo de autodidata, transformou-se no melhor prosador de nossas letras. Sua obra não cabe na classificação de uma escola ou no estreito compartimento de um gênero. Ela é universal.
Painel (de 10 m) criado por Glauco Rodrigures, afixado na sala principal do Espaço Machado de Assis na ABL

Como ficcionista, teve duas fases: antes de 1881 - fase romântica - e depois, fase realista.

FASE ROMÂNTICA
Desde os primeiros escritos (1855) até o romance Iaiá Garcia (1878), Machado de Assis está mais ligado ao Romantismo, mas sem exageros sentimentais. Já apresenta características próprias: análise psicológica das personagens, humor malicioso e cuidado da forma.


FASE REALISTA
Com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis abre o ciclo de romances realistas que o consagrariam em definitivo. Os seus romances - Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires - apresentam como características: análise psicológica; visão pessimista do mundo; ironia e humor agudos; busca obsessiva de significado existencial.

OBRAS
a) Poesia:
- Poesias Completas


b) Romances:

ROMANCES DE PRIMEIRA FASE (ROMÂNTICA):
- Ressurreição (1872)



ROMANCES DE SEGUNDA FASE (REALISTA):
b) Contos:
- Relíquias de casa velha

Escreveu ainda crônicas e peças teatrais.

Saiba mais...

Vídeo 1- Machado de Assis - O Romancista e sua Escrita


O livro Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) é um romance do escritor brasileiro Machado de Assis, considerado divisor de águas em sua carreira. O livro costuma ser associado à introdução do Realismo no Brasil. É narrado em primeira pessoa pelo personagem Brás Cubas, que em tom irônico e sarcástico, descreve sua biografia e suas obras.

“ Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico, com saudosa lembrança, estas memórias póstumas ”.

- Dedicatória da obra que enfatiza o humor negro e os traços realistas. 

O livro teve três versões cinematográficas: a primeira, rodada em tom completamente experimental, em 1967, chamava-se Viagem ao Fim do Mundo, sendo dirigido por Fernando Cony Campos. A segunda, de 1985, também com um caráter estético mais ousado, foi filmada por Julio Bressane, com Luiz Fernando Guimarães no papel de Brás Cubas. E em 2001, foi rodada uma nova produção, Memórias Póstumas, desta vez mais fiel à obra, dirigida por André Klotzel, com Reginaldo Faria atuando como Brás Cubas após os 60 anos até ser defunto e Petrônio Gontijo sendo Brás Cubas na sua juventude.







RAUL POMPÉIA
(1863-1895)
Nasceu em Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, em 1863, e morreu no mesmo Estado, em 1895.
Aluno de Direito em São Paulo, adere às idéias abolicionistas, positivistas e republicanas. De volta ao Rio de Janeiro, dedica-se ao jornalismo com artigos, folhetins, contos, crônicas e críticas de arte. Foi diretor do Diário Oficial e da Biblioteca Nacional no advento da República (1889). Polêmico, agressivo, exaltado, hipersensível, teve sua vida muito tumultuada. Na noite de Natal de 1895, suicidou-se. O Ateneu foi a obra-prima que o consagrou em definitivo.

OBRAS
Romances:
- Uma tragédia no Amazonas
- O Ateneu
- Agonia (inacabado)

Poesia:
- Canções sem metro




TENDÊNCIA NATURALISTA


ALUÍSIO AZEVEDO
(1857-1913)



Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo nasceu em São Luís, no Maranhão, em 1857, e faleceu em Buenos Aires, em 1913.
Transferiu-se definitivamente para o Rio de janeiro no ano da publicação de O Mulato e lá integrou-se ao grupo boêmio da época: Coelho Neto, Olavao Bilac, Guimarães Passos e outros. Em 1895, ingressou na carreira diplomática e prestou serviço em vários países: Espanha, Japão, Inglaterra, Argentina. Um tanto desiludido, abandonou as letras.
Seus romances buscam retratar e interpretar a realidade brasileira à luz das teorias científico-filosóficas da época.
O melhor de sua obra está na tríade naturalista: O mulato, Casa de Pensão e o Cortiço.
Aluísio de Azevedo é escritor apaixonado e talentoso. Artista combativo, pôs a nu os problemas sociais e moralistas da sociedade brasileira de seu tempo.

OBRAS
Romances ainda ligados ao Romantismo:
- Uma lágrima de mulher
- Filomena Borges
- Mistérios da Tijuca ou Girândula de amores
- O esqueleto
- Memórias de um condenado
- A mortalha de Alzira


Romances Naturalistas:
- O mulato
- O homem
- Casa de Orates
- Casa de pensão
- O cortiço
- O coruja
- O livro de uma sogra
Escreveu ainda crônicas, peças de teatro e contos.






DOMINGOS OLÍMPIO BRAGA CAVALCANTI
(1850-1906)




Nasceu em Sobral, a 18 de setembro de 1850. Filho de Antônio Raimundo Cavalcanti e Rita Braga Cavalcanti. Bacharelou-se em 1873, pela Faculdade de Direito do Recife. Voltando ao Ceará, aqui residiu até 1879, quando se transferiu para Belém, onde advogou, foi Deputado da Assembléia Provincial e batalhou no jornalismo, na defesa das idéias abolicionistas e republicanas. Em 1981, mudou-se para o Rio de Janeiro e foi nomeado Secretário da Missão Diplomática que, em Washington, daria solução ao litígio, sobre fronteiras, aberto entre o Brasil e a Argentina.

Alcançam grande sucesso entre o público as suas crônicas de O País, ardorosamente lidas e saboreadas pelo carioca. Escreveu, então, a História da Missão Especial de Washington, ainda inédita. Seu primeiro romance, Luzia-Homem, data de 1903. Na revista "Os Anais", publicou outro romance O Almirante, de costumes cariocas, e a novela Uirapuru, em que descreve cenas do extremo Norte. Para o teatro, produziu dramas e comédias: A perdição, Rochedos que Choram, Túnica de Néssus, Tântalo, Um Par de Galhetas, Os Maçons e o Bispo. Foi com Luzia-Homem que se enfileirou entre os grandes autores brasileiros. Domingos Olímpio é Patrono da Cadeira n° 8 da Academia Cearense de Letras. Faleceu a 07 de outubro de 1906, no Rio de Janeiro.

Alguns de seus romances são realistas, de cunho regionalista como se observa nos tipos e cenas que descreve. Sua prosa é exuberante, dúctil e pitoresca. É considerado o precursor do moderno romance brasileiro.


OBRAS

Domingos Olímpio não é autor de obra vasta, embora tenha se dedicado a vários gêneros. Grande número de artigos, contos e crônicas literárias não foram coligidos em livro e encontram-se esparsos em várias publicações periódicas do Ceará, Belém do Pará e Rio de Janeiro. Além disso, Domingos Olímpio escreveu ainda alguns sobre assuntos históricos e políticos - História da Missão Especial em Washington, A Questão do Acre e a Loucura na Política, para exemplificar - que também não mereceram publicação em volume.

Como teatrólogo, principalmente quando era estudante, escreveu e fez representar algumas peças, destacando-se:
- Rochedos que Choram
- A Perdição, Túnica de Néssus (dramas)
- Um Par de Galhetas e
- Domitília (comédias)
- Os Maçons e o Bispo (episódio burlesco).


De sua obra, entretanto, merecem destaque especial seus três romances:


- Luzia-Homem (1903), 

- O Almirante, publicado na revista Os Anais, do Rio de Janeiro, do nº 1 ao 96, de 8 de outubro de 1904 a 30 de agosto de 1906, e


- O Uirapuru, romance ou novela de costumes paraenses, de publicação incompleta em conseqüência de sua morte. Apenas os primeiros onze primeiros capítulos foram publicados na mesma revista que o anterior, do n° 92 ao 102, de 6 de setembro de 1906 a 11 de outubro de 1906.




Luzia - Homem - Este é, sem dúvida alguma, o melhor romance de Domingos Olímpio. Tem por tema o drama da seca e é um dos primeiros romances do gênero, iniciado com A Fome de Rodolfo Teófilo.
A ação de Luzia - Homem desenvolve-se num período de seca no Nordeste e situa-se na paisagem do município cearense de Sobral. Domingos Olímpio fixou no papel suas experiências da grande seca de 1877. Luzia - Homem é um romance de técnica naturalista, entretanto a observação cede lugar muitas vezes a aspectos de maior interesse, como o de captar o enigma da vida, conforme assinala Lúcia Miguel Pereira. Os tipos apresentados no romance vivem com bastante verdade psicológica: Luzia, a protagonista, é do tipo mulher masculinizada, de músculos fortes, mas de sensibilidade aguçada.
É taciturna, solitária, boa, corajosa, firme de caráter, constituindo-se num "símbolo da mulher cearense, heróica na sua luta contra o flagelo da seca, da emigração e da prostituição - como interpretou Abelardo Montenegro". Crapiúna é o mau soldado, excessivamente sensual e inconsciente. Teresinha, vítima de terceiros. Alexandre, o namorado, é bem delicado, bem como Raulino. O capitão Marcos e a família, sensíveis ao sofrimento comum, conservam, entretanto, o orgulho patriarcal do fazendeiro.
O principal defeito do romance Luzia - Homem consiste no "desnível entre a concepção e a execução, na grandeza daquela, na franqueza desta", como escreveu Lúcia Miguel Pereira. Na verdade, carece o romance de simplicidade de expressão. A linguagem usada é, muitas vezes, arrevesada e imprópria, prejudicada ainda por excessos retóricos. Por fim, Domingos Olímpio é um autêntico romancista regionalista com Luzia - Homem, oferecendo-nos "uma visão retrospectiva da condição humana e social do sertanejo, lutando pela sua sobrevivência e a de seus próprios valores no meio, que o castiga, mas com o qual ele se identifica no sofrimento e na alegria" (Presença da Literatura Brasileira).

Filme Luzia-Homem



PARNASIANISMO


CARACTERÍSTICAS


O Parnasianismo foi, entre as tendências da poesia pós-romântica, o estilo de época que alcançou maior popularidade e número de adeptos no Brasil, tanto do ponto de vista da produção quanto do consumo.

O nome desse estilo de época remonta à frança, onde a partir de 1866, publicam-se antologias de poesias denominadas "Parnaso Contemporâneo". Parnaso, nome que dá origem ao novo estilo, denomina uma região que segundo a mitologia grega, era habitada por poetas.

No Brasil, considera-se o livro Fanfarras (1882), de Teófilo Dias, como o marco inicial das tendências parnasianas.

O crítico Antônio Soares Amora vê como sustentáculos do estilo parnasiano três elementos: realismo, universalismo e esteticismo.

a) Realismo na visão do homem e da natureza. O homem é considerado como um elemento a mais na Natureza, submetido às forças materiais da vida, comandado pelo determinismo.

b) Universalismo artístico, que leva o parnasiano à escolha de temas que apresentassem aspectos essenciais e perenes da realidade. Por isso, ocorre a supressão do individualismo romântico e a busca do universal na História.

c) Esteticismo, que pregava a busca de uma expressão lingüística absolutamente perfeita.

Dessas três linhas mestras decorrem as características temáticas e estilísticas, assim como a ideologia parnasiana:
1- Objetividade
2- Alheamento de problemas sociais, com aceitação da "arte pela arte".
3- Predomínio da ordem indireta.
4- Emprego de palavras raras e incomuns.
5- Perfeição na metrificação e nas rimas.
6- Contenção emotiva.
7- Predomínio da descrição do real, mas não da análise.
8- Gosto pelo exotismo, pelo fato de ser raro.
9- Mera reprodução de formas e cores.
10- Retorno à antigüidade clássica.
11- Predomínio da técnica sobre a imaginação.
12- Visão do amor mais carnal que espiritual.
13- Utilização da sintaxe mais próxima do português de Portugal.
14- Desprezo aos temas individuais.



PRINCIPAIS AUTORES PARNASIANOS BRASILEIROS

OLAVO BILAC
(1865-1918)


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Abandonou a Faculdade de Medicina antes de concluí-la.

Em São Paulo, estudou dois anos na Faculdade de Direito. De volta ao Rio, ingressou no jornalismo. Nos últimos anos de vida, lutou pelas causas cívicas, sobressaindo-se no combate ao analfabetismo e na campanha do serviço militar obrigatório.

É um dos poetas mais lidos da língua portuguesa. não somente pela qualidade de sua poesia, como também pela grande popularidade de que passou a gozar, quando se envolveu com a divulgação dos valores nacionalistas. Seu principal livro, Poesias, continua sendo reeditado com grande aceitação do público. Seus versos primam pela perfeição formal e alguns tornaram-se antológicos, como Via Láctea e O caçador de esmeraldas.

Hoje, no dizer de Alfredo Bosi, "parece consenso da melhor crítica reconhecer em Bilac não um grande poeta, mas um poeta eloqüente, capaz de dizer com fluência as coisas mais díspares, que o tocam de leve, mas o bastante para se fazerem, em suas mãos, literatura".


OBRAS
Poesia:
- Panóplias
- Via Láctea
- Sarças de fogo
- Sagres
- Poesias Infantis
- Tarde

Prosa:
- Crônicas e novelas
- Crítica e fantasia
- Tratado de versificação
- Conferências literárias
- Ironia e piedade
- A defesa nacional
- Bocage
- Últimas Conferências
- Discursos


ALGUMAS POESIAS DE BILAC:


PROFISSÃO DE FÉ

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.


Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.


Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre: desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste


Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de outro engaste a rima.
Como um rubim.


Quero que a estrofe cristalina,
Dourada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:


E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.


E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo,
O pensamento.


Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!


VIA LÁCTEA
XIII
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto,
E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda a noite enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E ao vir do Sol, saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado-amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Têm o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas."


A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!


Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.


Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício.


Porque a beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimigo do artifício,
E a força e a graça na simplicidade.


RAIMUNDO CORREIA
(1860-1911)



Raimundo da Motta Azevedo Correia nasceu em 1860, a bordo do navio brasileiro São Luís, em águas do Maranhão.

Formado em Direito por São Paulo, seguiu as carreiras de magistrado e de professor. Faleceu em Paris em 1911.

Raimundo Correia é geralmente considerado pela crítica como o maior dos parnasianos brasileiros, preeminência merecida pela sua transcendente mensagem poética e consumada arte do verso. Poeta de idéias, no consenso geral tido como filósofo, preocupou-se com os valores universais e eternos, com a problemática existencial humana, o que traduz em termos de amargo desencanto e pungente lirismo.

Dentre todos os méritos que teve, salienta-se sua arte especial na composição de sonetos. Mal secreto, As pombas, A cavalgada e O vinho de Hebe são exemplares antológicos.


OBRAS
- Versos e versões
- Primeiros sonhos
- Sinfonias
- Aleluias
- Poesias


AS POMBAS...
Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada ...


E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;


No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...


 
ALBERTO DE OLIVEIRA
(1859-1937)
 

Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu em Saquarema (RJ), em 1859. Diplomado em Farmácia, dedicou-se ao magistério,

tendo exercido cargos públicos ligados ao ensino. Morreu em Niterói (RJ), em 1937.

Alberto de Oliveira era considerado um parnasiano rigoroso e impassível. Preferindo ignorar os problemas nacionais, cultor da forma, sua temática incluía elementos da mitologia greco-romana, mas também assuntos nativos na forma de registro de impressões visuais ou sensações.

Na sintaxe, as inversões de palavras. às vezes verdadeiras sínqueses, eram uma característica do seu estilo rebuscado. A rigidez da métrica de seus versos e as rimas raras traduzem seu apego aos princípios da escola parnasiana.


OBRAS
- Canções românticas
- Meridionais
- Sonetos e poemas
- Versos e rimas


VASO GREGO


Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.


Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.


Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,


Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.