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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Literatura até 750 caracteres

O Povo - 29/09/2014
Econômico, o guatemalteco Augusto Monterroso entrou para a história da literatura com sete palavras: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”, escreveu naquele que há anos é considerado o menor conto da história. Criado no último dia 16, o aplicativo gratuito para smartphones Diminuto ajuda a estender a experiência de Monterroso para o público conectado ao estimular a leitura e a escrita de pequenos contos. O desafio é condensar toda a tensão de uma história breve em, no máximo, 750 caracteres.
O Diminuto é um projeto criado pela escritora e jornalista Déborah Gouthier, pelo engenheiro de softwares Lucas Garcia e pela designer Isabella Gouthier. “O projeto surgiu de nossas próprias necessidades”, explica Déborah, que na época sentia a necessidade de utilizar uma plataforma digital para escrita e divulgação de seus textos literários. Lucas, por sua vez, buscava um trabalho mais ligado à cultura. Coube à Isabella unir visualmente os conceitos por trás do aplicativo. Surgia, então, o Diminuto: uma ferramenta de leitura e escrita colaborativa de minicontos.

A via de mão dupla do aplicativo funciona assim: além de receber textos revisados pela equipe do Diminuto em seu celular, os usuários têm a opção de enviar escritos para análise da equipe do app. Com isso, uma nova questão foi posta na rotina de Déborah e dos usuários/escritores: a fuga da prolixidade. “Antes era um desafio escrever apenas 750 caracteres; agora a dificuldade é quando quero chegar a uma lauda”, confessa a escritora, agora minicontista. Segundo a autora, essa limitação da extensão dos textos atende à agilidade dos tempos de smartphones. “Fizemos uma conta média para um texto ser possível de ser lido em um minuto”, explica Déborah, citando filas, banheiros e elevadores como locais para se tirar o celular do bolso e ler uma obra nova.

Já na época do lançamento, o Diminuto contava com mais de 300 usuários e um total de 200 textos enviados. Hoje, o aplicativo criado em Goiânia (GO) com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás acumula mais de 500 usuários em todo o Brasil. O download gratuito pode ser feito tanto no site oficial do aplicativo, quanto nas lojas virtuais Apple Store e Google Play. A ferramenta é compatível com celulares com sistema operacional iOS ou Android.


Desafio

Para medir o potencial da literatura com limitação espacial, convidamos três escritores cearenses para escrever um conto de até 750 caracteres com tema livre


Pedro Salgueiro


MECANISMO

Mesa posta. Pai, mãe e filho regem o silêncio.

Preces.Novamente.

(72 toques)


MEDO NA PRAÇA 

Silêncio. O artista sua, lapida

suas preces. Aplausos. De novo.

O silêncio.

(88 toques)


PESO DO MORTO

Noite sem lua. Rasga-mortalha.


— Dorme, pai. Deixa de falar só...
(77 toques)

Pedro Salgueiro, 49, é escritor e colunista do O POVO. Entre seus livros estão O Peso do Morto e Dos Valores do Inimigo.


Joice Nunes

avenida domingos olímpio, vinte de março de dois mil e quatorze, cartazes colados em todas as paradas de ônibus após longa confabulação, eminentes astrólogos afirmam: lua em quadratura com marte.

alertas vermelhos foram enviados a todos os países.hoje, portanto, não é um bom dia para a travessia de avenidas movimentadas.

muito cuidado ao pôr os pés no asfalto.há forte risco de desequilíbrios

tremoresvertigens

quedas bruscas(descarte a hipótese labirintite).

ainda que você seja um audaz equilibristamalabarista

estrategistaainda assim, não esqueça:

recomendável medir as consequências do abismo:é possível que todas as tentativas resultem em nada.

(644 toques)

Joice Nunes, 33, escritora e revisora de texto. É autora do livro do Maersk Alabama e uma das autoras de Metrópolis.

Contato: joicenunesdesouza@gmail.com



BONECA

De dentro do táxi eu contava os minutos, queria ser personagem frio, lover, ter perdido 2kg na dieta dos legumes; pois quebrei o gelo da noite numa madrugada de gatos pingados, amantes de capricórnio, coração pendurado na estratosfera. Aí você se despedaçou por inteiro enquanto eu não cometia deslizes, nem fodas, nem olhos grudados no volume da calça; por isso, como numa fuga, comprei passagem só de ida – resolveria os meus problemas com um par de seios na Tailândia. Compensação difícil da feminilidade sem pudor. E na volta, todas as minhas amigas morreriam de inveja.

(580 toques)


Antônio LaCarne, 31, autor de Salão Chinês, assina o blog pessoal O Impenetrável (oimpenetravel.blogspot.com.br)


Multimídia

O download gratuito pode ser feito no site oficial do aplicativo: diminuto.me


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