Como as redes sociais estão estimulando a prática da escrita e se tornaram aliadas do bom texto
CAMILA GUIMARÃES COM ALINE IMERCIO
12/02/2015 21h46 - Atualizado em 20/02/2015 20h55
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Maria Luiza Almeida de Lima estuda numa escola pública de ensino médio em Natal, no Rio Grande do Norte. Ela tem 16 anos e planeja prestar o Enem para a faculdade de Direito. Embora dedicada aos estudos, deixa os livros de lado para dar atenção aos amigos. Com eles, troca mais de 100 mensagens de celular por dia. Também faz atualizações diárias de seu perfil no Facebook. Fã do ídolo teen Justin Bieber, sua página na rede social é recheada de posts e comentários como este: Justinnnnnnn <3 :="" br="">
Malu tem uma causa que vai além de si mesma. Ela quer melhorar a escola (a mais antiga da cidade) para que ela e seus colegas tenham a melhor educação possível. Seu engajamento é inspirado na avó, que foi militante política quando jovem. Fala com orgulho da maior conquista do grêmio: uma reforma geral do prédio, que ruía com o descaso de mais de dez anos sem reparos. Malu foi a reuniões na prefeitura, fez pressão na Secretaria de Educação, entrou nas salas de aula para panfletar, organizou passeatas. Sobretudo, Malu escreveu. Ela é, desde 2013, a principal responsável pelas publicações do grêmio no Facebook, que tem mais de 1.300 seguidores. É ali que ela dá avisos corriqueiros, informa sobre campanhas de doação, critica e cobra a direção do colégio e mobiliza os estudantes para conquistas maiores. A linguagem usada por Malu nesses casos é bem diferente dos fru-frus ilegíveis de seu perfil pessoal. Um exemplo de texto postado por ela durante a (conturbada) reforma da escola:
“Galerinha, esta semana não haverá aula para ninguém novamente! A Direção informou que esses dias sem aula servirão para finalizar o gesso em todo o Colégio.
Obs.: Em breve postaremos as fotos do brinde-passeio para Pipa-RN, que ocorreu ontem. \õ/
Boa tarde!”
Eis um comentário dela sobre esse mesmo post:
“Irresponsabilidade! Sabemos que a obra é algo bom para o Atheneu. Todos querem o colégio bonito e reformado, porém somos nós alunos que pagamos pela falta de organização das gestoras e da secretaria de educação. Deveriam ter revezado as turmas ou encontrado outro espaço para termos nossas aulas. Ter aula no sábado é pouco. Com certeza teremos sexto horário e aulas nas férias também. E quem faz curso? Quem trabalha? E aí? Parabéns!”
“Como redatora do grêmio, preciso me expressar com clareza. Tanto nos avisos em sala de aula quanto pelo Facebook. Por mais que esteja conversando com jovens, escrevo de maneira um pouco mais formal, sem muitos emoticons ou abreviações. Minha escrita pode influenciar”, diz ela. “Aproveito também para treinar minha escrita. Desde que comecei a postar, minhas redações escolares melhoraram bastante.”
Malu é apenas um de vários exemplos de como a internet, contrariando o senso comum, pode ser aliada – e não a vilã – da boa escrita. Facebook, Twitter, WhatsApp e SMS, com seus textos curtos e superficiais, as abreviações inconsequentes, a ausência doída de um acento ou de uma vírgula, não afastaram a juventude da palavra escrita, como alguns gurus da internet e da educação acreditavam em meados de 2000. Na verdade, graças a eles, os jovens nunca foram tão dependentes da escrita para se comunicar – e nunca foi tão importante escrever bem. As redes sociais glamorizaram a palavra escrita entre os jovens, transformando quem se expressa bem em alvo da admiração alheia. Um texto irônico ou contundente no Facebook, assim como um tuíte espirituoso, pode atrair a atenção e conquistar seguidores. É um meio de ganhar prestígio e melhorar o status no grupo. 3>
Fonte: Revista Época - www.epoca.com.br
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