acritica.com - 25/01/2015
Muitas pesquisas apontam que o índice de leitura do brasileiro é de quatro livros por ano. Mas se excluídas as obras indicadas por escolas e faculdades, ou seja, quando considerada apenas a leitura espontânea, chega-se ao baixíssimo índice de pouco mais de um livro por ano por pessoa. Porém existe aquela minoria que não se encaixa nessa realidade. E não bastasse o amor pela leitura, resolveram passar para “o outro lado”: se tornaram escritores e conseguiram lançar as próprias obras.
“Lembro que, desde pequena, já gostava muito de ler. Ganhava meu dia quando me presenteavam com aqueles livrinhos infantis que têm mais figuras que texto. Uma vez, ganhei o livro baseado no filme da Disney “A Bela e a Fera”, que eu já amava. E esse tinha mais texto do que figuras e foi um desafio ler ‘tuuuuudo’ aquilo. Mas, daí, me encantei com aquele mundo que eu mesma criava na minha imaginação; já nem olhava as imagens, apenas imaginava”, diz Marcia Luisa Bastilho Gonçalves, 23.
Natural de Santana do Livramento (RS), a jovem universitária do quinto período de Letras se declarou uma “viciada em livros” e chega a ler até 200 por ano. Aos dez anos, ela “descobriu” a biblioteca da escola onde estudava e se deslumbrou com a história de “Harry Potter”, os poemas de Cecília Meireles e Ferreira Gullar, e as peças de Shakespeare. “Mas o meu livro preferido, até hoje, é “Os Miseráveis”, de Victor Hugo”, afirma, ao ressaltar que ele foi a inspiração para se arriscar na arte de escrever.
“Tenho certeza absoluta que comecei a escrever por causa desse livro. Lembro que peguei a versão escolar – mais fininho e com linguagem mais ‘acessível’ – na sexta-feira. E, no sábado à tarde, já estava acabando de ler. Quando me dei conta que estava chorando, fechei o livro após a última frase e disse baixinho para mim mesma: ‘É isso. É isso que eu quero fazer’. Me referia a fazer alguém chorar, ser tocado com as palavras escritas por mim, deixar de ver a personagem para vê-la como pessoa. Como real”, completa Marcia.
Após essa “epifania literária”, a gaúcha se dedicou a escrever pequenos contos, poemas e histórias. Sempre em meio aos livros, a blogueira se encontrou na Internet. “Aos 14 anos, meu vício literário ‘piorou’. Conheci outro mundo mágico: dos PDFs, fanfics [ficção criada por fãs] e comunidades do Orkut. Foi quando cheguei a ler mais de 200 livros em um ano”, diz.
Paixão virou trilogia
Com o “boom” do vampirismo em livros, filmes e séries, a universitária mergulhou de cabeça nas histórias de fantasia. “Cinema e literatura sempre andam juntos. Tudo que era de vampiro, eu corria atrás. Então, me deparei com um filme realmente ruim, enredo previsível e efeitos visuais precários... E tive outra epifania. Pensei: ‘se eu gosto tanto de vampiro, por que eu mesma não escrevo um filme?’. Foi nessa época que me veio a história ‘The Burns’, minha série de livros de vampiros”, declara.
Três anos depois, ela lançou a primeira obra da série, “Chamas de Sangue”, em 2011. A continuação, “Cidade em Chamas”, chegou às livrarias 12 meses depois. Ambos publicados pela editora Literata, selo da Arwen. “Agora, estou escrevendo o terceiro: ‘Fugindo das Chamas’. Acredito que qualquer escritor tem que ser leitor. Amar tanto imaginar que, ao ler um livro, crie suas próprias imagens, não se contente em apenas viver em um mundo inventado por alguém; e, sim, criar um completamente novo”, suspira.
Leitura precoce
Enquanto a maioria das crianças cresce em meio a brinquedos, Barbara Dewet, 28, foi rodeada por literatura. Filha de professora e de um músico, sempre ganhou livros de presente. Aos três anos de idade aprendeu a ler sozinha e devorou “Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”. “As pessoas custam a acreditar. Acabei aprendendo a identificar letras e palavras sem a ajuda de ninguém e isso me ajudou muito a ser uma leitora voraz por anos a fio. Li sozinha, sentada em um quarto de brinquedos que eu e minha irmã dividíamos”, lembra.
Enquanto os coleguinhas corriam pelo playground, Babi Dewet, como é conhecida no cenário literário, se dedicava aos cadernos, canetas, giz de cera e brincadeiras de escolinha. “Meu livro favorito quando criança era ‘O Mundo de Sofia’ que, hoje em dia, não é comum na leitura das crianças. Mas eu adorava, junto com alguns do Paulo Coelho e outros autores”, revela a escritora, professora e administradora.
Após descobrir a série “Harry Potter” na adolescência, a carioca foi apresentada às fanfics e começou a compartilhar as próprias histórias, guardadas em cadernos, com outros fãs online. Desde então, pegou o “gosto” pela escrita e desistiu de contar a quantidade de livros lidos. “Decidi lançar meu próprio livro, baseado em uma fanfic, em 2009. Assim, minha vida como escritora começou de verdade. Hoje, tenho três livros lançados: a trilogia “Sábado à Noite”. E muitos projetos para esse ano”, conclui Babi.
‘Caminho natural’
Aos 22 anos, a também carioca Iris Figueiredo já lançou dos livros — “Dividindo o mel” e “Confissões de uma adolescente online” — e a série “Amores Proibidos”. “A leitura sempre esteve presente em minha vida, já que meus pais também são amantes de livros. Em um ano, cheguei a ler uma média de cem livros. Hoje em dia, com o ritmo corrido, me mantenho entre 50 ou 60 por ano, mas ainda é bem mais que a média nacional, quatro. Costumo brincar que leio por muitas outras pessoas”, declara.
A autora sempre teve vontade de escrever e, aos 14 anos, publicava alguns textos na Internet. “Foi um caminho natural. A Iris escritora sempre andou ao lado da Iris leitora. Terminei meu primeiro livro aos 17 anos, mas publiquei apenas aos 19, por causa da agenda da editora. Foi uma emoção incrível. Este ano, lanço o terceiro e já estou escrevendo o quarto. Não pretendo parar tão cedo”, ressalta.
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