Larissa Pessoa - Jornal Cruzeiro do Sul - 27/03/2017
Para a pedagoga Vanessa Marconato Negrão, 33, “ler ascende clarões na alma”, e nada melhor do que estimular estes clarões ainda na infância. Ela, que também é mãe do pequeno João Pedro, de quatro anos, começa, a partir deste domingo (25), a publicar a coluna fixa “Eu já li”, no Cruzeirinho, com dicas de livros infantis e destaca que as obras sugeridas podem, e devem, ser lidas por todos os amantes da literatura.
A primeira obra que Vanessa divulgará no novo espaço do jornal Cruzeiro do Sul será Um dia, um rio, do escritor Léo Cunha. O livro é da editora Pulo do Gato, e conforme descreve a pedagoga, aborda a tragédia de Mariana de forma poética. “Existe uma ideia equivocada de que a criança não consegue absorver um tema complexo, mas isso é um erro.” O livro infantil, conta, já foi lido para João Pedro e ela também trabalhou com a obra em sala de aula. A experiência com os alunos, lembra, é sempre enriquecedora, pois através da leitura é possível transformar as crianças em agentes multiplicadores de conteúdo, e com Um dia, um rio, há a oportunidade de plantar a semente da conscientização ecológica.
Segundo a colunista, atualmente vive-se uma crise cultural, pois as pessoas não leem e através da “Eu já li”, a pedagoga pretende valorizar a escrita e mostrar que as crianças podem sim ler e refletir sobre assuntos considerados tabus ou exclusivos aos adultos. “É um pecado reservar aos pequenos apenas temas bobos e rasos.”
A paixão pelos livros é tanta que em junho do ano passado Vanessa criou a página “Livros para João” no Facebook, onde também dá dicas de leitura para os pequenos. Em uma das publicações, ela sugere a série Livros para o amanhã, da Boitatá, selo infantil da Boitempo Editorial. A nova colunista conta que as obras são capazes de emponderar a criança para a cidadania, construir um senso de justiça social e formar para o questionamento crítico. Os livros da série, fala, foram escritos há 40 anos, e publicados originalmente pela editora catalã La Gaya Ciencia. “Como depois de quatro décadas, o amanhã parece ainda não ter chegado, essa coleção é um instrumento de esperança para os que não subestimam a capacidade de entendimento das crianças”, avalia.
Um problema sério no mercado editorial infantil, aponta Vanessa, são os muitos livros-brinquedo, com pouca qualidade literária. “Nesses livros a literatura não é protagonista e precisamos mudar isso”, afirma. Ela também critica o uso demasiado dos chamados livros utilitaristas, que sempre buscam uma moral da história, uma lição para a criança. Para Vanessa, é preciso estimular a leitura apenas pelo prazer que a leitura proporciona.
Com relação às leituras impostas na escola, a pedagoga tem dúvidas sobre a prática e destaca que se o interesse pelos livros fosse estimulado desde os primeiros meses de vida não haveria necessidade dessa obrigatoriedade. “Eu acho que ninguém aprende a gostar de ler lendo Machado de Assis, mas se não for imposto, será que eles vão ler?” Ela destaca que até entre os adultos há rejeição aos livros, e mesmo em áreas que a leitura é primordial, é possível encontrar profissionais avessos à literatura.
O primeiro contato da criança com as histórias escritas e contadas, diz Vanessa, deve acontecer o quanto antes e segundo ela, desde os três meses de idade já é possível fazer com que o bebê se envolva na cadência e na sonoridade do conto. “Desde muito cedo eles já são capazes de responder aos estímulos, não de forma verbal, mas das maneiras que eles conseguem naquele momento da vida.” Ela brinca e diz que livro não tem contraindicação, pois toda criança está apta a aprender.
Trajetória
O gosto pela literatura surgiu na infância, no sítio em que morava com a família em Jaguariúna, na região de Campinas. “Não tinha internet e eu não gostava de televisão, então mergulhava nos livros e praticamente morava na biblioteca da cidade.” Formada em pedagogia, Vanessa, além de atuar nas salas de aula, foi uma das primeiras profissionais a integrar o projeto Bebeteca, em Sorocaba. Com cursos e treinamentos, ela teve a experiência como mediadora de leitura para crianças, e recorda o impacto que essa atividade teve em sua vida. “Até ali eu via o livro como entretenimento e depois notei que a literatura vai muito além e é capaz de transformar vidas.”
Os desafios na sala de aula, afirma, também são muitos, mas com paciência e dedicação é possível despertar o interesse pela leitura nos pequenos. “Quando vem uma turma de crianças que não têm hábito de ler em casa, a gente recorre aos livros cheios de figuras e outros artifícios, mas depois a criança já consegue dar total atenção a um conto extenso e mais complexo” afirma.
Inspirações e referências
Para a pedagoga, Ruth Rocha e Eva Furnari permanecem muito significativas no mercado editorial, pois seus livros continuam clássicos infantis. Ela cita também Renato Moriconi e Ilan Bremman. “São autores e ilustradores que produzem muito, sempre com muita qualidade”, elogia. Vanessa chama atenção para a escritora portuguesa Isabela Minhós Martins e para a literatura lusitana como um todo, que, segundo ela, está entrado no mercado editorial brasileiro de maneira muito significativa nos últimos meses.
A colunista lembra também da sorocabana Silvana Rando, conhecida pela autoria de ótimas histórias e ilustrações voltadas aos pequenos. Ela também é ganhadora do prêmio Jabuti de 2011, e, como lembra Vanessa, ainda promove a literatura infantil em Sorocaba, através da Livraria do Elefante, um ponto de encontro para amantes das histórias bem escritas e contadas.
Vanessa com o filho João: estímulo à leitura - PEDRO NEGRÃO/ACERVO PESSOAL |
Para a pedagoga Vanessa Marconato Negrão, 33, “ler ascende clarões na alma”, e nada melhor do que estimular estes clarões ainda na infância. Ela, que também é mãe do pequeno João Pedro, de quatro anos, começa, a partir deste domingo (25), a publicar a coluna fixa “Eu já li”, no Cruzeirinho, com dicas de livros infantis e destaca que as obras sugeridas podem, e devem, ser lidas por todos os amantes da literatura.
A primeira obra que Vanessa divulgará no novo espaço do jornal Cruzeiro do Sul será Um dia, um rio, do escritor Léo Cunha. O livro é da editora Pulo do Gato, e conforme descreve a pedagoga, aborda a tragédia de Mariana de forma poética. “Existe uma ideia equivocada de que a criança não consegue absorver um tema complexo, mas isso é um erro.” O livro infantil, conta, já foi lido para João Pedro e ela também trabalhou com a obra em sala de aula. A experiência com os alunos, lembra, é sempre enriquecedora, pois através da leitura é possível transformar as crianças em agentes multiplicadores de conteúdo, e com Um dia, um rio, há a oportunidade de plantar a semente da conscientização ecológica.
Segundo a colunista, atualmente vive-se uma crise cultural, pois as pessoas não leem e através da “Eu já li”, a pedagoga pretende valorizar a escrita e mostrar que as crianças podem sim ler e refletir sobre assuntos considerados tabus ou exclusivos aos adultos. “É um pecado reservar aos pequenos apenas temas bobos e rasos.”
A paixão pelos livros é tanta que em junho do ano passado Vanessa criou a página “Livros para João” no Facebook, onde também dá dicas de leitura para os pequenos. Em uma das publicações, ela sugere a série Livros para o amanhã, da Boitatá, selo infantil da Boitempo Editorial. A nova colunista conta que as obras são capazes de emponderar a criança para a cidadania, construir um senso de justiça social e formar para o questionamento crítico. Os livros da série, fala, foram escritos há 40 anos, e publicados originalmente pela editora catalã La Gaya Ciencia. “Como depois de quatro décadas, o amanhã parece ainda não ter chegado, essa coleção é um instrumento de esperança para os que não subestimam a capacidade de entendimento das crianças”, avalia.
Um problema sério no mercado editorial infantil, aponta Vanessa, são os muitos livros-brinquedo, com pouca qualidade literária. “Nesses livros a literatura não é protagonista e precisamos mudar isso”, afirma. Ela também critica o uso demasiado dos chamados livros utilitaristas, que sempre buscam uma moral da história, uma lição para a criança. Para Vanessa, é preciso estimular a leitura apenas pelo prazer que a leitura proporciona.
Com relação às leituras impostas na escola, a pedagoga tem dúvidas sobre a prática e destaca que se o interesse pelos livros fosse estimulado desde os primeiros meses de vida não haveria necessidade dessa obrigatoriedade. “Eu acho que ninguém aprende a gostar de ler lendo Machado de Assis, mas se não for imposto, será que eles vão ler?” Ela destaca que até entre os adultos há rejeição aos livros, e mesmo em áreas que a leitura é primordial, é possível encontrar profissionais avessos à literatura.
O primeiro contato da criança com as histórias escritas e contadas, diz Vanessa, deve acontecer o quanto antes e segundo ela, desde os três meses de idade já é possível fazer com que o bebê se envolva na cadência e na sonoridade do conto. “Desde muito cedo eles já são capazes de responder aos estímulos, não de forma verbal, mas das maneiras que eles conseguem naquele momento da vida.” Ela brinca e diz que livro não tem contraindicação, pois toda criança está apta a aprender.
Trajetória
O gosto pela literatura surgiu na infância, no sítio em que morava com a família em Jaguariúna, na região de Campinas. “Não tinha internet e eu não gostava de televisão, então mergulhava nos livros e praticamente morava na biblioteca da cidade.” Formada em pedagogia, Vanessa, além de atuar nas salas de aula, foi uma das primeiras profissionais a integrar o projeto Bebeteca, em Sorocaba. Com cursos e treinamentos, ela teve a experiência como mediadora de leitura para crianças, e recorda o impacto que essa atividade teve em sua vida. “Até ali eu via o livro como entretenimento e depois notei que a literatura vai muito além e é capaz de transformar vidas.”
Os desafios na sala de aula, afirma, também são muitos, mas com paciência e dedicação é possível despertar o interesse pela leitura nos pequenos. “Quando vem uma turma de crianças que não têm hábito de ler em casa, a gente recorre aos livros cheios de figuras e outros artifícios, mas depois a criança já consegue dar total atenção a um conto extenso e mais complexo” afirma.
Inspirações e referências
Para a pedagoga, Ruth Rocha e Eva Furnari permanecem muito significativas no mercado editorial, pois seus livros continuam clássicos infantis. Ela cita também Renato Moriconi e Ilan Bremman. “São autores e ilustradores que produzem muito, sempre com muita qualidade”, elogia. Vanessa chama atenção para a escritora portuguesa Isabela Minhós Martins e para a literatura lusitana como um todo, que, segundo ela, está entrado no mercado editorial brasileiro de maneira muito significativa nos últimos meses.
A colunista lembra também da sorocabana Silvana Rando, conhecida pela autoria de ótimas histórias e ilustrações voltadas aos pequenos. Ela também é ganhadora do prêmio Jabuti de 2011, e, como lembra Vanessa, ainda promove a literatura infantil em Sorocaba, através da Livraria do Elefante, um ponto de encontro para amantes das histórias bem escritas e contadas.
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