Madrugada de quinta-feira, 19 de outubro de 2017:
Você já viu sua vida mudar em um piscar de olhos?
É incrível como em um momento as coisas parecem estar tranquilas e, de repente, toda a calmaria acaba, o pior é o silêncio ensurdecedor que vem depois disso, são os seus pensamentos.
você já parou para ver e pensar sobre o quanto a natureza parece perfeita? É tudo tão lindo, tudo é vida!
A natureza tem diversos admiradores, mas também tem aqueles que não se importam muito com ela, e então ela se revolta.
A revolta da mãe natureza é consequência do mal que nós, seres humanos, fazemos a ela, às vezes sem perceber, às vezes sem ter consciência do mal que estamos fazendo a nós mesmos e, às vezes, com total consciência, pois a ganância do homem o levará à sua própria ruína.
Na data especificamente citada, a mãe natureza não estava nem um pouco feliz. E foi aí que em um piscar de olhos tudo foi destruído.
Sempre quando eu via que um temporal se aproximava, ficava preocupada, mas naquela noite pensei “logo passa”, só que não passou.
Encontrei minha mãe segurando uma porta para trancar, ajudei ela e fomos acender uma vela, “meu Deus, proteja todas as casinhas”, minha mãe sempre falava isso, fui para o quarto dela, como sempre fazíamos, e então a vela se apagou.
Foi como se a mãe natureza soprasse a vela, com a força do vento o teto foi sendo arrancado e o forro caindo, claro que entrei em desespero, minha mãe disse que a gente não poderia fazer nada, e então eu deitei sobre o meu irmãozinho que ainda estava dormindo, pra tentar proteger ele, parecia que tudo iria desabar sobre nós.
Isso não é um sonho, isso não é um sonho. Eu repeti isso na minha cabeça várias vezes, eu sabia que não era um sonho, mas desejava que quando amanhecesse nada daquilo tivesse realmente acontecido.
Chuva, não parava de chover. Minha mãe, meu irmão e eu estávamos completamente molhados, chovia dentro da nossa casa da mesma maneira que chovia na rua.
Vento, eu não faço ideia do tempo que durou aquele temporal, parecia que não iria passar nunca, e agora parece que durou apenas um milésimo de segundo. Eu tenho flashes sobre aquela noite.
Quando tudo se acalmou, menos a chuva, saímos do que antes era a nossa casinha, e naquele momento era um caos, haviam coisas caídas e espalhadas por todo o lugar, e fomos passar o resto da noite na casa de uma das vizinhas.
Eu não conseguia dormir, mantive os olhos fixos no teto, pensando em como a nossa casa estava, em como tudo que a gente lutou pra ter e que tínhamos tanto carinho, estava debaixo da chuva. Foi inevitável pensar nos meus livros, há mais ou menos quatro anos atrás me apaixonei por livros, tinha uma adoração pelos meus livros, arrumadinhos nas prateleiras, eram eles que davam vida ao meu quarto de cores neutras. Naquele momento estavam abaixo de chuva.
Pensei nos meus pais, eu sabia que nada tinha sido fácil para eles, quando eu era pequena a gente tinha que alugar casas para morar porque não tínhamos uma nossa. Eles conseguiram ter a própria casa, mas agora ela não parecia mais um lar.
Quando amanheceu minha mãe entrou na nossa casa com um guarda-chuva. Eu tive vontade de desistir de tudo, sabe? Uma onda de tristeza se espalhou sobre meu corpo e minha mente, eu não queria mais morar naquele lugar.
Então eu mesma me dei um tapa na cara, eu já tinha passado por coisas piores, já tinha perdido meu pai e, meu Deus, o que é mais importante que uma vida?
Todos estavam bem, logo iríamos nos recuperar, arrumar a nossa casinha. E foi o que aconteceu, graças à ajuda de pessoas boas que nos querem bem.
No fim daquele dia nossa casa já havia sido coberta, e eu comi um sanduíche só com pão e queijo, e tomei uma caneca cheia de café, pela primeira vez na vida eu tomei todo o meu café. E sabe por que eu acho importante contar isso? Porque eu estava com fome, de verdade, e estava agradecida por estar bem e ter o que comer.
Sexta-feira, 20 de outubro de 2017:
Na sexta era o aniversário de oito anos do meu irmão, claro que os planos de fazer uma festinha haviam sido arruinados, nem tínhamos clima pra isso, mas eu sabia que ele estava chateado, então comprei refrigerante, salgadinhos e chocolates e levei ele na praça, então “comemoramos” o aniversário dele, sentados no banco da praça, comendo bobagens. Eu sei que foi simples e que ele merecia muito mais, mas nunca vou esquecer a gratidão que vi nos olhos dele, espero que ele nunca se esqueça também. No fim da tarde daquela sexta-feira alguns amigos nossos levaram uma torta para o meu irmão, ele ficou muito feliz, e eu, eternamente grata.
Domingo, 3 de dezembro de 2017:
Só agora consegui escrever sobre isso, falar sobre mim e sobre as coisas que passei sempre foi difícil.
E hoje eu agradeço à mãe natureza pelo recado que ela me deu. Hoje consigo dar muito mais valor para tudo o que tenho, eu sei que a minha vida é breve, vivemos o agora, não sabemos quando nossa vida vai acabar, mas eu tenho certeza que não será o fim, espero levar dessa vida somente sabedoria, pois os bens materiais não tem valor algum, podemos viver somente com o essencial, e o amor é essencial!
Nátaly Bianchini, 202.
Você já viu sua vida mudar em um piscar de olhos?
É incrível como em um momento as coisas parecem estar tranquilas e, de repente, toda a calmaria acaba, o pior é o silêncio ensurdecedor que vem depois disso, são os seus pensamentos.
você já parou para ver e pensar sobre o quanto a natureza parece perfeita? É tudo tão lindo, tudo é vida!
A natureza tem diversos admiradores, mas também tem aqueles que não se importam muito com ela, e então ela se revolta.
A revolta da mãe natureza é consequência do mal que nós, seres humanos, fazemos a ela, às vezes sem perceber, às vezes sem ter consciência do mal que estamos fazendo a nós mesmos e, às vezes, com total consciência, pois a ganância do homem o levará à sua própria ruína.
Na data especificamente citada, a mãe natureza não estava nem um pouco feliz. E foi aí que em um piscar de olhos tudo foi destruído.
Sempre quando eu via que um temporal se aproximava, ficava preocupada, mas naquela noite pensei “logo passa”, só que não passou.
Encontrei minha mãe segurando uma porta para trancar, ajudei ela e fomos acender uma vela, “meu Deus, proteja todas as casinhas”, minha mãe sempre falava isso, fui para o quarto dela, como sempre fazíamos, e então a vela se apagou.
Foi como se a mãe natureza soprasse a vela, com a força do vento o teto foi sendo arrancado e o forro caindo, claro que entrei em desespero, minha mãe disse que a gente não poderia fazer nada, e então eu deitei sobre o meu irmãozinho que ainda estava dormindo, pra tentar proteger ele, parecia que tudo iria desabar sobre nós.
Isso não é um sonho, isso não é um sonho. Eu repeti isso na minha cabeça várias vezes, eu sabia que não era um sonho, mas desejava que quando amanhecesse nada daquilo tivesse realmente acontecido.
Chuva, não parava de chover. Minha mãe, meu irmão e eu estávamos completamente molhados, chovia dentro da nossa casa da mesma maneira que chovia na rua.
Vento, eu não faço ideia do tempo que durou aquele temporal, parecia que não iria passar nunca, e agora parece que durou apenas um milésimo de segundo. Eu tenho flashes sobre aquela noite.
Quando tudo se acalmou, menos a chuva, saímos do que antes era a nossa casinha, e naquele momento era um caos, haviam coisas caídas e espalhadas por todo o lugar, e fomos passar o resto da noite na casa de uma das vizinhas.
Eu não conseguia dormir, mantive os olhos fixos no teto, pensando em como a nossa casa estava, em como tudo que a gente lutou pra ter e que tínhamos tanto carinho, estava debaixo da chuva. Foi inevitável pensar nos meus livros, há mais ou menos quatro anos atrás me apaixonei por livros, tinha uma adoração pelos meus livros, arrumadinhos nas prateleiras, eram eles que davam vida ao meu quarto de cores neutras. Naquele momento estavam abaixo de chuva.
Pensei nos meus pais, eu sabia que nada tinha sido fácil para eles, quando eu era pequena a gente tinha que alugar casas para morar porque não tínhamos uma nossa. Eles conseguiram ter a própria casa, mas agora ela não parecia mais um lar.
Quando amanheceu minha mãe entrou na nossa casa com um guarda-chuva. Eu tive vontade de desistir de tudo, sabe? Uma onda de tristeza se espalhou sobre meu corpo e minha mente, eu não queria mais morar naquele lugar.
Então eu mesma me dei um tapa na cara, eu já tinha passado por coisas piores, já tinha perdido meu pai e, meu Deus, o que é mais importante que uma vida?
Todos estavam bem, logo iríamos nos recuperar, arrumar a nossa casinha. E foi o que aconteceu, graças à ajuda de pessoas boas que nos querem bem.
No fim daquele dia nossa casa já havia sido coberta, e eu comi um sanduíche só com pão e queijo, e tomei uma caneca cheia de café, pela primeira vez na vida eu tomei todo o meu café. E sabe por que eu acho importante contar isso? Porque eu estava com fome, de verdade, e estava agradecida por estar bem e ter o que comer.
Sexta-feira, 20 de outubro de 2017:
Na sexta era o aniversário de oito anos do meu irmão, claro que os planos de fazer uma festinha haviam sido arruinados, nem tínhamos clima pra isso, mas eu sabia que ele estava chateado, então comprei refrigerante, salgadinhos e chocolates e levei ele na praça, então “comemoramos” o aniversário dele, sentados no banco da praça, comendo bobagens. Eu sei que foi simples e que ele merecia muito mais, mas nunca vou esquecer a gratidão que vi nos olhos dele, espero que ele nunca se esqueça também. No fim da tarde daquela sexta-feira alguns amigos nossos levaram uma torta para o meu irmão, ele ficou muito feliz, e eu, eternamente grata.
Domingo, 3 de dezembro de 2017:
Só agora consegui escrever sobre isso, falar sobre mim e sobre as coisas que passei sempre foi difícil.
E hoje eu agradeço à mãe natureza pelo recado que ela me deu. Hoje consigo dar muito mais valor para tudo o que tenho, eu sei que a minha vida é breve, vivemos o agora, não sabemos quando nossa vida vai acabar, mas eu tenho certeza que não será o fim, espero levar dessa vida somente sabedoria, pois os bens materiais não tem valor algum, podemos viver somente com o essencial, e o amor é essencial!
Nátaly Bianchini, 202.
Quando vejo meus alunos produzindo assim, não tem como não ficar emocionada. Missão cumprida, muita leitura e escrita. Acredito no potencial de vocês!
Professora Denise Miletto
Texto maravilhoso contanto uma realidade triste vivida a tão poucos meses certamente por muitas pessoas na nossa cidade, emocionante Nátaly com certeza serão dias que jamais esquecerás mas serviram de impulso para nunca desistir de seus sonhos, beijos!
ResponderExcluirTexto maravilhoso contanto uma realidade triste vivida a tão poucos meses certamente por muitas pessoas na nossa cidade, emocionante Nátaly com certeza serão dias que jamais esquecerás mas serviram de impulso para nunca desistir de seus sonhos, beijos!
ResponderExcluirDenise, querida colega sei de teu carinho pelos alunos e de teu excelente trabalho e do potencial que essas crianças, adolescentes têm, realmente é um orgulho e também me emocionei pelo belo texto escrito pela minha afilhada linda e dedicada.Parabéns professora, Nátaly e demais alunos.
ResponderExcluirLinda essa história real, li toda essa leitura engasgada é difícil não se emocionar, essa moça pode ser...ou melhor é uma bela escritora, nossa segurando as lágrimas,e parabéns Porque além de ser tão jovem passou por tantas coisas difíceis, mas o melhor de tudo é que sabe dá valor oque realmente é essencial é tão sabe valorizar a família, parabéns minha linda com certeza onde teu pai estiver está muito orgulhoso de você!
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