Por Galeno Amorim
A gente sabe, mas não dá bola.
Fiquei com essa terrível sensação ao fazer a entrevista especial desta semana com o professor da Universidade Federal do ABC e sociólogo Sérgio Amadeu, conhecido pela defesa que faz do software livre.
Crítico contumaz sobre a questão da privacidade em tempos de mídias sociais, ele faz uma análise crua e fria sobre como e o que as grandes corporações andam fazendo com nossos dados pessoais, colhidos enquanto navegamos despreocupadamente na internet. É de arrepiar! Vale a pena ler a entrevista exclusiva, aqui do blog, e o seu recado e alerta para os educadores e formadores de leitores brasileiros.
Boas leituras!
Para o sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC, que pesquisa as relações entre tecnologia, cultura e poder e foi membro do Comitê da Internet no Brasil, as mesmas tecnologias que trazem uma série de possibilidades positivas para a Educação também podem trazer elementos negativos. Doutor em Ciência Política pela USP, Sergio Amadeu, autor de do livro "Tudo Sobre Tod@s: Redes Digitais, Privacidade e Venda de Dados Pessoais", faz um alerta aos professores e profissionais da leitura: é preciso, mais do que nunca, aprender e ensinar a usar a internet com espírito crítico.
1. Embora muitos defendam a necessidade e a urgência da educação pensar formas de incluir os dispositivos de acesso à internet e as próprias mídias digitais na Educação, parece haver, por ora, mais dúvidas do que certezas nisso e se realmente é o caso. O que profissionais da leitura, como professores, bibliotecários e técnicos de projetos, precisam estar atentos para entrar nesse debate?
R) As tecnologias, em geral, são ambivalentes. Elas trazem uma série de possibilidades positivas para a Educação, mas elas também podem trazer elementos negativos. Uma das características dos processos culturais em torno das tecnologias digitais é a reconfiguração constante dos dispositivos e ferramentas. Essa reconfiguração pode trazer melhorias ou dificultar o aprendizado. Outro aspecto importante é que tudo que fazemos no mundo digital deixa rastros. Esses rastros são negociados no mercado de dados pessoais e valem muito dinheiro. Usar sem espírito crítico as plataformas da internet nos conduz a uma sociedade sem o mínimo de privacidade. Por que vocês acham que o Google dá gratuitamente uma série de programas computacionais para as escolas infantis?
2. O vazamento e o uso dos dados pessoais de milhões de usuários do Facebook estão alarmando pessoas no mundo todo. Qual o risco que as pessoas - sejam elas adultos, jovens ou crianças - estão correndo?
R) O Facebook armazena aproximadamente 300 milhões de Gigabytes de informação de seus usuários. Ele faz isso para vender os perfis das pessoas para as empresas que querem vender produtos para um público mais definido. No escândalo da Cambridge Analytica, os usuários do Facebook foram mapeados e tiveram seus perfis oragnizados por características psicológicas. Essa análise foi vendida para a campanha de Trump. Assim, o candidato republicano pode enviar postagens, vídeos e memes precisos, conforme os perfis de cada eleitor. O Facebook guarda nossos dados para vendê-los em amostras que visam modular nosso comportamento e opinião.
3. Qual o pulo do gato que leva grandes corporações que estão na internet a entregar, gratuitamente, produtos e serviços às pessoas, como aconteceu na onda recente da caça ao Pokemon, que, em poucas horas, mobilizou milhões de pessoas no planeta?
R) O que sustenta praticamente quase todas as plataformas que nos oferecem serviços e soluções gratuitamente são os dados pessoais que recolhem dos usuários. Esses dados são vendidos em estado bruto ou processados em amostras. Quando usamos o Waze, nossos trajetos pela cidade são armazenados e servem a construir nosso perfil que pode ser agregados com outros dados. Por exemplo, o jogo Pokemon Go visava coletar imagens dos vários ambientes em que as pessoas fotografavam. Na verdade, elas achavam que estavam apenas capturando o pokemon na sua pokebola.
4. Que papel os educadores podem ter, em sua opinião, para tratar de temas como a venda e o uso inconsequentes dos dados pessoais e de seus alunos, e deles próprios, além de familiares e amigos, nesse mercado?
R) Penso que os educadores devem mostrar a estrutura e a dinâmica da economia informacional que transformou os dados pessoais em matéria prima, no petróleo do século XXI. Acredito que uma das grandes tarefas é superar o senso comum e posturas que se baseiam em ditados como "quem não deve não teme". Quando você não protege seus dados pessoais você deve temer sim. Você fica completamente fragilizado. Se você precisa muito de dinheiro e resolve vender o seu carro, caso o comprador saiba da sua situação certamente conseguirá adquirir seu veículo por um preço inferior ao que vale. Em uma negociação, quando uma parte tem todas as informações sobre você e você tem pouca informação importante sobre o outro,é quase certo que você terá um resultado ruim. Hoje, uma série de corporações tem dados sensíveis sobre nossas vidas e nossa intimidade. Isso está sendo vendido. Isso nos fragiliza. Uma das principais missões dos educadores é formar cidadãos para viver protegidos em um capitalismo de vigilância.
Serviço:
eBook "Tudo Sobre Tod@s: Redes Digitais, Privacidade e Venda de Dados Pessoais"
Sergio Amadeu
Edições Sesc
Preço: R$ 9,00 (Oferta Livraria Cultura: https://bit.ly/2w607Dr)
A gente sabe, mas não dá bola.
Fiquei com essa terrível sensação ao fazer a entrevista especial desta semana com o professor da Universidade Federal do ABC e sociólogo Sérgio Amadeu, conhecido pela defesa que faz do software livre.
Crítico contumaz sobre a questão da privacidade em tempos de mídias sociais, ele faz uma análise crua e fria sobre como e o que as grandes corporações andam fazendo com nossos dados pessoais, colhidos enquanto navegamos despreocupadamente na internet. É de arrepiar! Vale a pena ler a entrevista exclusiva, aqui do blog, e o seu recado e alerta para os educadores e formadores de leitores brasileiros.
Boas leituras!
Para o sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC, que pesquisa as relações entre tecnologia, cultura e poder e foi membro do Comitê da Internet no Brasil, as mesmas tecnologias que trazem uma série de possibilidades positivas para a Educação também podem trazer elementos negativos. Doutor em Ciência Política pela USP, Sergio Amadeu, autor de do livro "Tudo Sobre Tod@s: Redes Digitais, Privacidade e Venda de Dados Pessoais", faz um alerta aos professores e profissionais da leitura: é preciso, mais do que nunca, aprender e ensinar a usar a internet com espírito crítico.
1. Embora muitos defendam a necessidade e a urgência da educação pensar formas de incluir os dispositivos de acesso à internet e as próprias mídias digitais na Educação, parece haver, por ora, mais dúvidas do que certezas nisso e se realmente é o caso. O que profissionais da leitura, como professores, bibliotecários e técnicos de projetos, precisam estar atentos para entrar nesse debate?
R) As tecnologias, em geral, são ambivalentes. Elas trazem uma série de possibilidades positivas para a Educação, mas elas também podem trazer elementos negativos. Uma das características dos processos culturais em torno das tecnologias digitais é a reconfiguração constante dos dispositivos e ferramentas. Essa reconfiguração pode trazer melhorias ou dificultar o aprendizado. Outro aspecto importante é que tudo que fazemos no mundo digital deixa rastros. Esses rastros são negociados no mercado de dados pessoais e valem muito dinheiro. Usar sem espírito crítico as plataformas da internet nos conduz a uma sociedade sem o mínimo de privacidade. Por que vocês acham que o Google dá gratuitamente uma série de programas computacionais para as escolas infantis?
2. O vazamento e o uso dos dados pessoais de milhões de usuários do Facebook estão alarmando pessoas no mundo todo. Qual o risco que as pessoas - sejam elas adultos, jovens ou crianças - estão correndo?
R) O Facebook armazena aproximadamente 300 milhões de Gigabytes de informação de seus usuários. Ele faz isso para vender os perfis das pessoas para as empresas que querem vender produtos para um público mais definido. No escândalo da Cambridge Analytica, os usuários do Facebook foram mapeados e tiveram seus perfis oragnizados por características psicológicas. Essa análise foi vendida para a campanha de Trump. Assim, o candidato republicano pode enviar postagens, vídeos e memes precisos, conforme os perfis de cada eleitor. O Facebook guarda nossos dados para vendê-los em amostras que visam modular nosso comportamento e opinião.
3. Qual o pulo do gato que leva grandes corporações que estão na internet a entregar, gratuitamente, produtos e serviços às pessoas, como aconteceu na onda recente da caça ao Pokemon, que, em poucas horas, mobilizou milhões de pessoas no planeta?
R) O que sustenta praticamente quase todas as plataformas que nos oferecem serviços e soluções gratuitamente são os dados pessoais que recolhem dos usuários. Esses dados são vendidos em estado bruto ou processados em amostras. Quando usamos o Waze, nossos trajetos pela cidade são armazenados e servem a construir nosso perfil que pode ser agregados com outros dados. Por exemplo, o jogo Pokemon Go visava coletar imagens dos vários ambientes em que as pessoas fotografavam. Na verdade, elas achavam que estavam apenas capturando o pokemon na sua pokebola.
4. Que papel os educadores podem ter, em sua opinião, para tratar de temas como a venda e o uso inconsequentes dos dados pessoais e de seus alunos, e deles próprios, além de familiares e amigos, nesse mercado?
R) Penso que os educadores devem mostrar a estrutura e a dinâmica da economia informacional que transformou os dados pessoais em matéria prima, no petróleo do século XXI. Acredito que uma das grandes tarefas é superar o senso comum e posturas que se baseiam em ditados como "quem não deve não teme". Quando você não protege seus dados pessoais você deve temer sim. Você fica completamente fragilizado. Se você precisa muito de dinheiro e resolve vender o seu carro, caso o comprador saiba da sua situação certamente conseguirá adquirir seu veículo por um preço inferior ao que vale. Em uma negociação, quando uma parte tem todas as informações sobre você e você tem pouca informação importante sobre o outro,é quase certo que você terá um resultado ruim. Hoje, uma série de corporações tem dados sensíveis sobre nossas vidas e nossa intimidade. Isso está sendo vendido. Isso nos fragiliza. Uma das principais missões dos educadores é formar cidadãos para viver protegidos em um capitalismo de vigilância.
Serviço:
eBook "Tudo Sobre Tod@s: Redes Digitais, Privacidade e Venda de Dados Pessoais"
Sergio Amadeu
Edições Sesc
Preço: R$ 9,00 (Oferta Livraria Cultura: https://bit.ly/2w607Dr)
Fonte: Blog do Galeno
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